Aventura com o querido primo Cláudio Goelzer
[Foto ilustrativa de Ademir Almeida]
Eu teria 5 anos, lá por 1943. Eu estava na casa do tio Amadeu em sua Estância no Butiá. A casa era perto de um riacho que passava alí pertinho. Um passo permitia o acesso ao outro lado do riacho. Passando o riacho, continuando e subindo a coxilha, mais adiante, estava a casa dos Avós Eufrazia e Fernando .
O primo Cláudio teria 13 anos. Ele estava me ensinando a pescar. Nas águas límpidas do riacho era possível vislumbrar traíras.
Primeiro procuramos umas minhocas para utilizar como isca. Depois sentamos num gramado e Cláudio contava umas histórias enquanto preparava os anzóis. Claudio sempre teve muita sensibilidade, mesmo bem jovem sabia se relacionar com uma criança.
Não sei que aventura ele tinha contado que me levou a dizer, sem mais nem menos:
- Vamos fugir ?
Assunto para especialistas: uma criança que está feliz pode sugerir tal idéia ? Feliz e aproveitando as novidades na casa do tio, o pátio com longo gramado até um "lago" lá em baixo, os animais, a pescaria, um primo dedicado.
Cláudio, surpreso, demorou a reagir. Finalmente ele disse:
- FUGIR ???
E eu, rapidamente, disse "Sim, fugir".
Novo silêncio, um pouco mais longo. Finalmente Claudio disse "Estou de acordo, vamos fugir".
Logo perguntei "Quando ?" e o primo "Hoje de tarde".
Ele viu que eu concordei e então disse "Hoje, aí pelas 3 horas, vai na cozinha e pega umas coisas para comeres hoje à noite. Eu passo depois e pego umas coisas para mim. Vamos nos encontrar aqui neste lugar às 4 horas. Mas não esqueças de pegar um poncho."
Não entendi a recomendação final e perguntei "Para que levar um poncho?"
Cláudio explicou: "Para dormir ao relento o poncho te protege da umidade da grama e do frio. As noites são frias."
Concordei que pegaria um poncho ou minha capa Renner.
Aí Cláudio continuou com o detalhe do plano.
"Nós vamos caminhar e, quando começar a escurecer, vamos escolher um lugar para passar a noite. Vamos nos instalar e depois vamos comer o que cada um escolheu e vai levar."
Já estava começando a ficar complicado mas disse que estava bem.
Aí Cláudio disse: "Vamos combinar o seguinte: depois de comer, vamos conversar um pouco, daí tu deitas e eu fico cuidando até a uma hora da madrugada. Daí eu te acordo, eu vou dormir e tu ficas me cuidando até às seis da manhã. Mas tem de ficar de olho bem aberto pois podem aparecer javalis bem brabos, cobras, lagartos. Quando clarear o dia me chama se eu ainda estiver dormindo."
Foi aquele silêncio, mais longo que outros silêncios. Cláudio só esperando. E mais silêncio.
Finalmente eu disse: "Fica para outro dia. Vamos ver se pegamos umas traíras."